Contraindicações & Condições de uso:

-Conteúdo facilmente inflamável;

-Conteúdo nocivo a neurónios sãos;

-Pode provocar hipersensibilidade a qualquer pessoa;

-O produto é geralmente bem tolerado por todos os que se aventuram, exceptuando nos casos de efeitos secundários; [temática a desenvolver adiante]

-O efeito local mais referido pelas vítimas foi uma certa "dormência" assim do pescoço para cima, mas deve ser encarado não como um efeito secundário mas como uma manifestação da hipersensibilidade dos neurónios sãos ao conteúdo, como atrás foi referido;

-Podem verificar-se, ainda que muito raramente, exceptuando quando sucedem com frequência, ataques súbitos de "baba", gaguez ocasional, olheiras, secura na garganta, muita sede e leves irritações no local onde o produto foi aplicado;

-Em caso de perda de sentidos, consultar um médico ou farmacêutico; se nenhum estiver disponível no momento tente o 112; se o número de emergência falhar aplique água morna nos olhos e esfregue com movimentos circulares até recuperar os sentidos;

-O autor não se responsabiliza de qualquer maneira por danos na matéria saudável que ainda exista dentro da cabeça dos leitores;


sábado, 17 de outubro de 2009

De lágrimas e das pedras da calçada ou Era uma vez um pombo

Acordei. Ainda mal era de dia, mas os pássaros já faziam uma barulheira imensa na rua. Ainda pensei em mandar um berro ao Octávio, mas depois lembrei-me...

O Octávio morreu.

Deuses, já foi há tanto tempo que já nem me lembrava dessa real figura columbófila. Da maneira como ele abanava o pescoço e dava às patinhas qual galinha citadina. E então, subitamente, lembrei-me do dia da sua morte.

Eu estava a fazer torradas, mas distraí-me e acidentalmente pus a mão em cima da torradeira... Puxei-a tão rápido quanto o meu sistema nervoso permitiu, e pelos vistos, rápido demais. Foi um movimento tão inesperado, que apanhou o Octávio distraído.

O pobre do pombo levou uma pantufada tal que voou (não pelos seus próprio meios) pela janela fora.

Com a minha mão quase a arder, nem reparei no animal e fui meter a pata (a minha) debaixo de água a correr para ver se a coisa passava.

Acabou por passar, mas só quando voltei a olhar para a janela escancarada é que me lembrei do pássaro. Gritei por ele, mas não respondia. Veio a Rosete, com os seus seis olhos a brilharem na minha direcção:

-Mataste-o... - disse-me ela numa voz triste, sem me atribuir directamente as culpas.
-Eu... foi sem querer. Onde é que ele está?
-Não o estás a ver?
-Não, daqui não vejo - respondi, cada vez mais assustado.
-É aquele borrão escurecido ali no meio da calçada...depois de o atirares, caiu em cima de um camião e esbardalhou-se do meio da estrada. Ainda estava meio estremunhado quando a velha lhe passou por cima.
-Atropelaram-no?
-Sim, com um carrinho de compras daqueles novos, de plástico.

E foi assim, o fim trágico de um grande amigo. Um pássaro sem igual. Um pombo entre os pombos...

Adeus amigo e que no céu em que estás voes para sempre.


E depois de eu ter pensado tudo isto e de ter lembrado as lágrimas que não chorei, voltei a adormecer, amaldiçoando os cabrões dos pombos que me tinham acordado. A última coisa que ouvi foi a Rosete a fechar as cortinas.