Aberta a porta verde da rua, a quinta porta de quem vem contando, rapidamente subi as escadas que me levaram por vários lanços, até ao meu destino. Terceiro andar. Três portas por onde escolher, mas a minha chave velha só abria uma. Terceiro direito.
E lá fui.
Esfreguei os pés no tapete, ou naquilo que se me pareceu ser um, e rodei a chave no trinco.
Estranho.
A casa não me tinha qualquer cheiro... Senti-me de súbito um extraterrestre a pisar pela primeira vez a Terra. Os meus sentidos de nada ali valiam. Alguém fechara todas as janelas. A única luz que me guiava era a que entrava pela porta que eu acabara de abrir.
Calmamente e aos apalpões pelas paredes, la´descobri que não havia luz eléctrica.
Senti-me uma toupeira. E novamente às apalpadelas, e usando, embora em vão, o nariz para me guiar, lá esbarrei com o que me pareceu ser uma janela.
Abri-a o mais rapidamente que pude.
E a vista surpreendeu-me. Dali se via toda a Travessa. Muito mais bonita do que eu tinha reparado la´em baixo. Afinal até era um sítio agradável.
E nem um som. Parecia que os meus únicos vizinhos eram os pombos que iam passando à janela escancarada.
-Mas que mal educado, não cumprimenta os presentes, e entra assim na morada dos outros. - falou uma voz.
-Olá! -respondi. A quem quer que seja que passe...
-Cá em baixo! - volveu a voz.
E, espantado, vi que era uma aranha que me falava.
Não a pisei, como qualquer normal pessoa faria. Afinal a aranha tinha acabado de me cumprimentar.
-Olá senhora aranha, por acaso as moscas gigantes e o senhor escaravelho não estão, não? -falei eu para o estranho aracnídeo.
-Não sei do que fala senhor. Vivo cá sozinha. Rosete é o meu nome.
Uma aranha chamada Rosete.
E foi aí que dei conta que algo de muito errado comigo se passava.
Pois eu sabia perfeitamente que uma aranha decente nunca iria ter aquele nome...
Enfim.... depois da Rosete, veio um pombo à janela, que cagando sentenças disse chamar-se Octávio. A seguir, miou um gato na rua. Não, afinal era uma gata. Miquelina.
Voltei a desconfiar, que isso era lá nome de gata. Mas a seguir veio um pardal aos saltinhos, que dizia que andava a ser perseguido por ombreiras de portas gigantes. O pobre coitado lá se poisou na minha janela, ao lado do Octávio, e desabafou todos os seus problemas.
Eu ouvi. Acho eu que ouvi. Não tenho a certeza.
Estava a gostar da minha nova casa.
Aliás estou a gostar. Esta travessa parece muito movimentada.
Mas o que me faz parar para pensar não são os animais falantes ou as nuvens e o sol sorridente. É sim o estranho cheiro que a casa foi ganhando.
Vapores de menta e eucalipto.
__________________________________
Tudo isto para dizer olá e dar os meus cumprimentos às gentes que aqui habitam na Travessa. Espero encontrar-vos por aí. Numa esquina, sentados à janela, a cochichar a vida alheia, a fazer pouco da vida ou a curtir a bebedeira.
Sejam gente da que forem, agora vivo com vocês. E para mal vosso, vão ter que me aturar.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Deve ser menta e eucalipto...
ResponderEliminar